É
lícito o homem repudiar sua MULHER por qualquer motivo? ( Mt 19.3)
Por Frankcimarks Oliveira
Este
mundo é dos homens, sempre foi. Foram os homens quem escreveram a história e
deram sua versão dela à posteridade. Os homens escreveram os livros, fizeram as
leis, governaram as cidades. Claro, que tendo usufruído deste poder descomunal,
precisavam manter em sujeição a mulher, sua rival.
As
mulheres ainda hoje precisam lutar pelo seu lugar no mundo, porque os homens,
alguns deles, ainda se recusam a enxergá-las como iguais. Apenas após a
primeira guerra mundial foi que a mulher conseguiu alcançar alguns poucos
direitos. A luta delas não é contra nós homens, é contra a desigualdade e
injustiça que sofrem, logo, todo aquele que tem sede de justiça se coloca ao
lado delas.
Infelizmente,
aqueles que são contra as melhorias das condições de vida das mulheres,
utilizam-se, muito indevidamente, do discurso da fé em Deus, das tradições
familiares e etc. para legitimar suas ideias egoístas contra, por exemplo,
salários justos e equivalentes para estas. Existem aqueles que se dizem contra
a inserção delas no mercado de trabalho, porque segundo eles, Deus fez a mulher
para ser dona de casa e auxiliar de seu marido.
Veremos
hoje o quão mesquinho é o ser humano e o quanto é capaz de manipular as
escrituras sagradas para conseguir o que desejam. Deus não pode ser manipulado
por homens, sejam religiosos, teólogos ou que for. Deus sempre estará do lado
dos oprimidos, dos mais fracos, ainda que desagrade uma vasta maioria.
Jesus
foi interrogado pelos fariseus acerca do desquite. “É lícito o homem repudiar
sua MULHER por qualquer motivo?” ( Mt 19.3) Percebe-se que eles esperavam uma
resposta positiva, pois acreditavam e ensinavam que o próprio Moisés tinha
autorizado tal prática. (V.7) “Moises, por causa da dureza dos vossos corações,
vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Eu vos
digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa da fornicação,
e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também
comete adultério”. ( v.9)
O
sexo é uma aptidão poderosa em nós. A mulher, contudo, não pode ser vista apenas
como objeto sexual. Antes disso, ela é um ser humano, feita à imagem e
semelhança de Deus, digna de cuidado e respeito.
Os
fariseus eram como qualquer outro homem de sua época. A diferença entre eles e
os demais era que sabiam manusear bem as escrituras. Entenderam que havia uma
brecha na lei mosaica que os permitia repudiar suas mulheres por qualquer
motivo. Jesus os contradisse. Ora, o divórcio não pode ser banalizado, afinal,
o homem não está lidando com uma coisa ou um animal, está lidando, como já disse,
com um ser humano. Portanto, várias questões devem ser analisadas.
Tal
atitude só revelava a dureza dos corações destes homens em relação às mulheres.
Eles não percebiam o quanto o que eles diziam e faziam revelava quem eles
realmente eram: maus e canalhas. As palavras e os gestos de uma pessoa falam
mais do que podemos imaginar.
A
mulher naqueles dias dependia do pai ou do marido. Sem um homem a seu lado, ela
estava praticamente inerte, aleijada. Não tinha poder aquisitivo, nem herdava
bens, desse modo um divórcio sem motivo a arruinaria. Provavelmente ela
mendigaria ou se prostituiria para sobreviver. Ela nem se quer era contada nos
censos, não podia participar de certas cerimônias e não tinha voz para questões
políticas ou religiosas.
O
mesmo tratamento indiferente recebia as crianças. (Mt 19.13-15) Jesus
repreendeu seus discípulos que tentavam impedi-las de se aproximar. “O reino
dos céus pertence a elas”, disse. Ora, isso tudo para mostrar o quanto os
homens excluíam e excluem os mais fracos.
Jesus
recebeu mulheres em seu grupo. Perdoou pecadoras e deu-lhes funções em sua
comitiva, mostrando que perante Deus, somos todos iguais, não importando o
gênero. Jesus deu voz às mulheres. O testemunho de uma mulher não era levado em
consideração, apenas o de dois homens. Ao ressuscitar dos mortos, Jesus
apareceu para Maria Madalena, constituindo-a uma apóstola para os demais acerca
de sua vida. Será que isso não tem valor? Ele não apareceu de cara para um
homem. Escolheu uma mulher para dizer que estava vivo, só depois, por causa
daquela tradição boba, apareceu para Pedro e João.
Deus
inverte as coisas. Defendeu as mulheres oprimidas de seus dias. Chamou as
crianças para seu reino. Convidou leprosos, mendigos, cegos, coxos,
analfabetos, todos os rejeitados e marginalizados pela sociedade para estarem
em sua companhia. O que surpreende os homens, não surpreende a Deus. Nem mesmo
o jovem rico que aparece na narrativa em seguida o surpreende. Dinheiro algum
pode comprar Jesus, nem suposta obediência à lei. Deus não se deixa levar pela
aparência das coisas.
Aquele
dinheiro poderia ser distribuído aos pobres, e isso sim agradaria a Deus. Há
muita injustiça nesse mundo e Deus se importa com os justos, isso é, com
aqueles que buscam justiça, fazer justiça.
Repudiar
uma esposa sem motivo não é justo. Excluir uma criança (um pequenino) do reino
de Deus não é justo. Reter riquezas enquanto milhares passam fome não é justo.
Os filhos do Deus justo hão de fazer o que é certo.
Uma
mulher fazer uma mesma função de um homem em determinado emprego e receber
menos não é justo. Ser distratada pelo simples fato de ser mulher não é justo.
Ser assediada em público por causa de suas vestes não é justo. Ser humilhada e
apanhar do marido em casa não é justo.
Pense
leitor, você acha certo perpetuar discursos de ódio que diminuem seres humanos?
Se por acaso você é daqueles retrógrados que pensam “tudo bem uma mulher ser
estuprada”, então você pode ser tudo, menos um filho da luz.
Também vale frisar o que eles perguntam : É lícito? Nem tudo o que é legal é justo. Não podemos esquecer que a segregação racial já foi amparada por lei. A escravidão também já foi legal e nem por isso é justa. A lei humana reflete muito nosso egoísmo. Fazemos leis para todos?
Antes de qualquer coisa, leitor, pense no seguinte: É justo o que faço? Como minhas ações revelam meu coração diante de Deus? Estou buscando fundamento legal para ser um hipócrita desonesto?
Para
concluirmos, o texto acima trata do egoísmo masculino, apegado
ao sexo e ao dinheiro, incapaz de se importar com o bem-estar dos outros. Esse
é o grande pecado: não amar o próximo, seja mulher, criança, negro, jovem,
idoso. Deus é amor, Deus é Justo, Deus julgará nossas ações. Amém.
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