sábado, 15 de setembro de 2018

É JUSTO O QUE FAÇO?


É lícito o homem repudiar sua MULHER por qualquer motivo? ( Mt 19.3)


Por Frankcimarks Oliveira


Este mundo é dos homens, sempre foi. Foram os homens quem escreveram a história e deram sua versão dela à posteridade. Os homens escreveram os livros, fizeram as leis, governaram as cidades. Claro, que tendo usufruído deste poder descomunal, precisavam manter em sujeição a mulher, sua rival.

As mulheres ainda hoje precisam lutar pelo seu lugar no mundo, porque os homens, alguns deles, ainda se recusam a enxergá-las como iguais. Apenas após a primeira guerra mundial foi que a mulher conseguiu alcançar alguns poucos direitos. A luta delas não é contra nós homens, é contra a desigualdade e injustiça que sofrem, logo, todo aquele que tem sede de justiça se coloca ao lado delas.

Infelizmente, aqueles que são contra as melhorias das condições de vida das mulheres, utilizam-se, muito indevidamente, do discurso da fé em Deus, das tradições familiares e etc. para legitimar suas ideias egoístas contra, por exemplo, salários justos e equivalentes para estas. Existem aqueles que se dizem contra a inserção delas no mercado de trabalho, porque segundo eles, Deus fez a mulher para ser dona de casa e auxiliar de seu marido.

Veremos hoje o quão mesquinho é o ser humano e o quanto é capaz de manipular as escrituras sagradas para conseguir o que desejam. Deus não pode ser manipulado por homens, sejam religiosos, teólogos ou que for. Deus sempre estará do lado dos oprimidos, dos mais fracos, ainda que desagrade uma vasta maioria.

Jesus foi interrogado pelos fariseus acerca do desquite. “É lícito o homem repudiar sua MULHER por qualquer motivo?” ( Mt 19.3) Percebe-se que eles esperavam uma resposta positiva, pois acreditavam e ensinavam que o próprio Moisés tinha autorizado tal prática. (V.7) “Moises, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa da fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério”. ( v.9)

O sexo é uma aptidão poderosa em nós. A mulher, contudo, não pode ser vista apenas como objeto sexual. Antes disso, ela é um ser humano, feita à imagem e semelhança de Deus, digna de cuidado e respeito.

Os fariseus eram como qualquer outro homem de sua época. A diferença entre eles e os demais era que sabiam manusear bem as escrituras. Entenderam que havia uma brecha na lei mosaica que os permitia repudiar suas mulheres por qualquer motivo. Jesus os contradisse. Ora, o divórcio não pode ser banalizado, afinal, o homem não está lidando com uma coisa ou um animal, está lidando, como já disse, com um ser humano. Portanto, várias questões devem ser analisadas.

Tal atitude só revelava a dureza dos corações destes homens em relação às mulheres. Eles não percebiam o quanto o que eles diziam e faziam revelava quem eles realmente eram: maus e canalhas. As palavras e os gestos de uma pessoa falam mais do que podemos imaginar.

A mulher naqueles dias dependia do pai ou do marido. Sem um homem a seu lado, ela estava praticamente inerte, aleijada. Não tinha poder aquisitivo, nem herdava bens, desse modo um divórcio sem motivo a arruinaria. Provavelmente ela mendigaria ou se prostituiria para sobreviver. Ela nem se quer era contada nos censos, não podia participar de certas cerimônias e não tinha voz para questões políticas ou religiosas.

O mesmo tratamento indiferente recebia as crianças. (Mt 19.13-15) Jesus repreendeu seus discípulos que tentavam impedi-las de se aproximar. “O reino dos céus pertence a elas”, disse. Ora, isso tudo para mostrar o quanto os homens excluíam e excluem os mais fracos.

Jesus recebeu mulheres em seu grupo. Perdoou pecadoras e deu-lhes funções em sua comitiva, mostrando que perante Deus, somos todos iguais, não importando o gênero. Jesus deu voz às mulheres. O testemunho de uma mulher não era levado em consideração, apenas o de dois homens. Ao ressuscitar dos mortos, Jesus apareceu para Maria Madalena, constituindo-a uma apóstola para os demais acerca de sua vida. Será que isso não tem valor? Ele não apareceu de cara para um homem. Escolheu uma mulher para dizer que estava vivo, só depois, por causa daquela tradição boba, apareceu para Pedro e João.

Deus inverte as coisas. Defendeu as mulheres oprimidas de seus dias. Chamou as crianças para seu reino. Convidou leprosos, mendigos, cegos, coxos, analfabetos, todos os rejeitados e marginalizados pela sociedade para estarem em sua companhia. O que surpreende os homens, não surpreende a Deus. Nem mesmo o jovem rico que aparece na narrativa em seguida o surpreende. Dinheiro algum pode comprar Jesus, nem suposta obediência à lei. Deus não se deixa levar pela aparência das coisas.

Aquele dinheiro poderia ser distribuído aos pobres, e isso sim agradaria a Deus. Há muita injustiça nesse mundo e Deus se importa com os justos, isso é, com aqueles que buscam justiça, fazer justiça.

Repudiar uma esposa sem motivo não é justo. Excluir uma criança (um pequenino) do reino de Deus não é justo. Reter riquezas enquanto milhares passam fome não é justo. Os filhos do Deus justo hão de fazer o que é certo.

Uma mulher fazer uma mesma função de um homem em determinado emprego e receber menos não é justo. Ser distratada pelo simples fato de ser mulher não é justo. Ser assediada em público por causa de suas vestes não é justo. Ser humilhada e apanhar do marido em casa não é justo.
Pense leitor, você acha certo perpetuar discursos de ódio que diminuem seres humanos? Se por acaso você é daqueles retrógrados que pensam “tudo bem uma mulher ser estuprada”, então você pode ser tudo, menos um filho da luz.

Também vale frisar o que eles perguntam : É lícito? Nem tudo o que é legal é justo. Não podemos esquecer que a segregação racial já foi amparada por lei. A escravidão também já foi legal e nem por isso é justa. A lei humana reflete muito nosso egoísmo. Fazemos leis para todos?

Antes de qualquer coisa, leitor, pense no seguinte: É justo o que faço? Como minhas ações revelam meu coração diante de Deus? Estou buscando fundamento legal para ser um hipócrita desonesto?

Para concluirmos, o texto acima trata do egoísmo masculino, apegado ao sexo e ao dinheiro, incapaz de se importar com o bem-estar dos outros. Esse é o grande pecado: não amar o próximo, seja mulher, criança, negro, jovem, idoso. Deus é amor, Deus é Justo, Deus julgará nossas ações. Amém.