sexta-feira, 14 de abril de 2017

Até sermos Perfeitos

SEDE VÓS POIS PERFEITOS, COMO É PERFEITO O VOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS ( MT 5.48)

POR FRANKCIMARKS OLIVEIRA

Quando nos deparamos com um mandamento como este, só podemos ficar estarrecidos, pois sabemos que se tem uma coisa da qual estamos longe de ser é perfeitos, contudo foi Jesus quem ordenou: SEDE PERFEITOS. Portanto, analisemos agora as implicações deste decreto.

Primeiro precisamos entender o que Cristo vinha ensinando em seu célebre sermão do Monte. Seus ensinos foram:

1-      As bem-aventuranças ou felicidades do evangelho, as quais identificam aqueles a quem o reino dos céus está destinado;
2-      A severidade da lei e sua real interpretação, fazendo oposição aos ensinamentos dos antigos mestres judeus;
3-      O amor incondicional de Deus em contraste com o amor limitante e condicionador dos homens.

Agora poderemos compreender o porquê de Cristo ter ordenado: SEDE PERFEITOS ASSIM COMO VOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS.

Tiremos algumas conclusões um tanto quanto óbvias desta afirmação:

1-      Não somos perfeitos, por isso somos instados a buscar o aperfeiçoamento;
2-      Cristo mais do que ninguém sabe sobre nossas imperfeições;
3-      Deus é perfeito e nos é apresentado como modelo a ser imitado.

Precisamos agora saber como será possível chegarmos à perfeição divina. Existem meios para tal empreitada? Se Cristo assim nos manda, então a resposta é positiva. Vejamos algumas críticas que Jesus fez em seu sermão aos religiosos de sua época, logo às crenças daqueles dias:

1-      Os mestres ensinavam que matar era pecado gravíssimo, contudo acreditavam que odiar secretamente em seus corações não representava grande perigo para suas almas. Jesus, contudo disse que o simples ódio contido no coração era suficiente para condenar os homens, afinal o homicídio sempre começa com a raiva, ódio e ira;
2-      Os mestres ensinavam que ofertar e dizimar era importantíssimo para se manter a comunhão com Deus, Cristo, contudo, ensinou que de nada serviam tais práticas se os homens não mantivessem perfeita comunhão entre si primeiro, afinal como poderemos amar a Deus a quem não vemos, se não amamos nosso próximo a quem vemos? Nosso culto, dessa forma, é mera hipocrisia, logo não é aceito pelo Pai que é Perfeito;
3-      Os mestres ensinavam que o adultério era pecado, isto é, a consumação sexual, o deitar-se com outra mulher, mas o desejo secreto no coração não devia ser considerado algo demais. Contudo, Jesus repudiou essa crença, dizendo que o adultério começava com o desejo ilícito sendo alimentado na mente.
4-      Do mesmo modo Cristo repudiou a banalização do divórcio, pois os mestres judeus não só permitiam como pareciam até mesmo incentivar o mesmo, ensinando a dar a repudiada uma carta de desquite, como se isso diminuísse a gravidade do ato.
5-      Os mestres ensinavam ao povo o valor do juramento, Cristo, porém proibiu tal prática, ensinando aos homens que suas palavras deviam ser sim ou não, ou seja, a terem honra e serem respeitados por manterem aquilo que disseram sem ter que recorrer ao nome de Deus.
6-      Os religiosos ensinavam a lei de Talião, aquela que diz olho por olho, dente por dente. Jesus, entretanto, ensinou o perdão e a não pagar mal com mal.
7-      E por fim, os mestres da tradição ensinavam que o mandamento do amor só dizia respeito ao judeu para com o judeu, excluindo assim os gentios que não faziam parte da Aliança do Sinai. Contudo, Cristo, usando Deus como exemplo, que faz o sol nascer para todos, ordena que os perfeitos devem amar indistintamente, inclusive aqueles que não creem em Deus. Os perfeitos devem também cumprimentar não cristãos com a saudação de paz.

Os fariseus foram alvos de severas críticas por parte do Messias. Eles acreditavam que eram os verdadeiros guardiões da lei de Deus e que sua justiça e moral eram elevadíssimas, contudo de acordo com Jesus, eles haviam diminuído aquilo que Deus ordenara. Por isso mesmo Jesus diz que aquele cuja justiça não exceder a dos escribas e fariseus não entrará de modo algum no reino dos céus. Na verdade os fariseus eram cegos guiadores de cegos, que se gloriavam na observância externa dos mandamentos. Cristo, porém, estava mais interessado na transformação do coração do pecador, o qual sendo uma vez transformado, acabará por modificar todo o comportamento deste em sociedade. Assim se dá a diferença entre um religioso que vive de aparências, que externamente parece uma pessoa piedosa, mas possui um coração cheio de adultério, de ódio e inveja. Muitas vezes essas pessoas estão nos templos, esbanjando suas ofertas e contribuições com os serviços eclesiásticos, contudo permanecem alimentando discórdia entre seus membros, disputando cargos e visibilidade. Estes não são perfeitos diante do Pai Celestial, pelo contrário, estão longes de Deus, ainda que vivam vinte e quatro horas do dia em afazeres religiosos. Não é a toa que em Mateus, capítulo seis, o Senhor continua seu sermão, reprendendo aqueles que dão esmolas em público, que oram nas ruas em voz alta para serem vistos e jejuam até ficarem com seus rostos desfigurados para que todos percebam o quanto são espirituais. Mais uma vez digo, essas pessoas ainda não conheceram o evangelho de Jesus Cristo, que não se respalda em aparência, mas em essência.

Jesus é daqueles que valoriza uma comunhão íntima e secreta com o crente, por isso ordena que este entre em seu aposento, e de porta trancada fale com Deus em particular. Desse modo, analisemos agora as características daqueles que estão num caminho de aperfeiçoamento:

1-      Não vivem uma vida de aparências e nem buscam mascarar aquilo que realmente são;
2-      Não se utilizam de artifícios religiosos para apaziguar a consciência culpada, como jejuns, dízimos e orações, na tentativa de se convencerem de que são pessoas boas e acima da média;
3-      Entendem que o evangelho é comunhão e não mera prática de ritos e observâncias de tradições humanas, portanto priorizam mais o ser humano do que as coisas do templo;
4-      Entendem que a transformação do coração é o verdadeiro termômetro da aproximação com Deus e sabem discernir o que é certo e errado;
5-      Não tomam o nome de Deus em vão para obter favores, antes usam da própria boa reputação diante dos homens para conseguir o que precisam, mantendo a honradez;
6-      Não alimentam no coração o desejo de vingança;
7-      Não fazem distinção entre pessoas, antes trata a todas bem, não importando se essas são do seu convívio social ou não, se pertencem ao mesmo grupo religioso ou não. Ou seja, os perfeitos amam como Deus, sem ver cor, etnia, classe social, crenças, gênero e etc.

Paremos um pouco para refletir em que estágio nos encontramos. Estamos muito distantes do modelo que Cristo nos deu? Pense leitor, quão perto de Deus você está? Nunca se esqueça que a melhor forma de se perceber, é sempre olhar para dentro de si mesmo, isto é, para seu coração:
Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso CORAÇÃO ( Mt 6.21)

É o coração que guarda as portas da vida, logo é o coração que devemos vigiar. Que nosso coração deseje sempre as coisas que são do alto, e que nossas preocupações com as coisas deste mundo sejam sempre entregues a Deus, que sabe exatamente do que precisamos para cumprirmos nossa pequena jornada aqui neste mundo.

Outra coisa que devemos ter cuidado é com nossa arrogância. Os fariseus adoravam se colocar no lugar de juízes, porque acreditavam que eram excelentes cumpridores da lei divina, mas como já vimos, eles estavam enganados. Normalmente achamos que somos melhores do que realmente somos. Jesus nos advertiu :

NÃO JULGUEIS para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados e com a medida que medirdes sereis medidos. E por que reparas tu no argueiro do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? ( Mt 7.1-3)

Quer ser perfeito? Então deixe a cadeira de juiz e assente-se com os réus, assim como Jesus mesmo fez. Ora, ele sendo Senhor e Rei fez-se servo para andar com os servos e amá-los e não julgá-los. Façamos nós o mesmo. Com certeza essa não é uma tarefa fácil de cumprir, pois estamos viciados em julgar todo mundo o tempo todo, pois quando julgamos, temos a falsa sensação de que errados são os outros. Mas não se engane, na medida em que medirmos, seremos medidos. Por isso devemos pedir a Deus em oração para que tire esse maldito vício de nós, assim como ele mesmo disse: Pedi e dar-se-vos-á ( Mt 7.7) Tenho certeza que Deus nos concederá essa prece:

Senhor, eu tenho sido um terrível juiz dos meus irmãos. Ensina-me a não julgá-los, mas a amá-los assim como tu os ama. Amém.

Você duvida que Deus atenderá esse tipo de oração? Não duvide, pois isso nos fará perfeitos assim como ele é.

Também precisamos atentar para o que Jesus disse acerca de falsos mestres, que ao ensinarem enganos, acabam distanciando multidões de alcançarem a ordenança de serem perfeitos assim como o pai celeste .

Paulo disse :

A quem anunciamos, admoestando a todo homem em toda sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo e para isto também trabalho, combatendo segundo sua eficácia, que opera em mim, poderosamente ( Cl 1.28-29)

Infelizmente, o oposto também é verdade: existem milhares de homens e mulheres ensinando erradamente as multidões desavisadas da simplicidade do evangelho. Essas pessoas perdem o foco daquilo que realmente importa: tornarem-se perfeitas assim como Deus o é. Aprendem tudo o que é desnecessário para o crescimento espiritual e se perdem no meio do caminho, ainda que elas permaneçam a vida inteira dentro de igrejas.

O combate de Paulo era contra esses falsos profetas, que enriqueciam as custas da fé alheia. O que Paulo mais desejava era o aperfeiçoamento dos crentes em Jesus Cristo, libertando-os do legalismo e da carnalidade, assim como Cristo mesmo recomendou que fosse feito.

Precisamos ser pacientes para que sejamos perfeitos. Como eu já disse, trata-se de um CAMINHO, de um processo. Somos transformados de glória em glória até sermos a exata imagem de Cristo. Até lá tropeçaremos em muitas coisas, mas fiel é Deus para nos levantar e nos colocar de volta nos trilhos.

Deus conhece os que são os seus. Muitos são os que dizem Senhor , Senhor, mas não passam de uma multidão de enganados e imprudentes. Eles profetizaram em seu nome, curaram inclusive, se engajaram em trabalhar dia e noite, porém seus corações permaneceram tão sujos como outrora, cheios de ódio, inveja, cobiça, homicídios, vingança, hipocrisia, usura, desamor. Deus não se deixa enganar por palavras e obras. Deus sonda o coração; Deus investiga as entranhas, o mais profundo do ser.

O imperativo de Deus é que guardemos suas palavras e cumpramos seu mandamento: amai-vos uns aos outros. Quem não edifica sua casa sobre essa rocha, terá sua morada levada pelas grandes ondas da vida.

Aquele que é perfeito há de vir e não tardará. Quando ele vier, seremos iguais a ele e o que é aparente será aniquilado. Até lá o próprio Senhor vai nos aperfeiçoando através de sua boa palavra. Somos vaso nas mãos do oleiro.

Perfeito serás, como o Senhor teu Deus. (Deuteronômio 18:13)

         Creio que somente o Senhor é capaz de realizar tamanha obra. Sim, somos feituras de suas mãos. Assim como um artista empenhado em fazer sua mais bela criação, Deus está empenhado em nos tornar a imagem e semelhança de seu amado filho Jesus Cristo. Do mesmo modo creio que o filho está determinado a nos tornar parecidos com o Pai, afinal toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. (Tiago 1:17)

            O Senhor quer nos ver perfeitos diante dele. E só seremos perfeitos como ele quando formos capazes de amar à sua maneira.

Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. (Mateus 19:21)

            É esse o amor dele: que não tem reservas, que se dá por completo, de maneira radical e intensa. Que um dia sejamos capazes de amar desse modo, isto é, desprendida e livremente. Contudo, nunca percamos de vista o fato de ser o próprio Senhor o idealizador e consumador desse projeto. Não roubemos a glória que lhe é devida. O salmista mesmo disse: Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho.(Salmos 18:32) Viu? É Deus quem aperfeiçoa nosso caminho e não nós mesmos. Nossa dever é estar sempre pedindo que essa obra se realize. Precisamos manter nossos corações atentos e desejosos por essa perfeição. Sejamos vigilantes!


Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo; (Filipenses 1:6)

Não descansaremos até sermos perfeitos.


Amém!

Um comentário: