Não se Justifique

Eu não vim chamar os Justos, mas sim os pecadores ao arrependimento.     ( Mc 2.17)

Por Frankcimarks Oliveira

         Todos pecaram e destituídos  estão da  Glória de Deus! Eis a máxima do evangelho de Cristo. Ora, Deus olhou desde os céus e não achou um justo sequer, nenhum que tivesse entendimento e  buscasse  a  Deus. E quem irá contrariar aquilo que o Senhor diz em seu santo livro ?

         Sabemos que não há nada de bom em nós mesmos, portanto não há nada que possamos nos apegar que nos justifique. Como disse o justo Jó :

         Na verdade sei que assim é, porque como se justificaria o homem para com Deus? ( Jó 9.2)

         Quão profunda declaração disse este homem. E é sobre ele que o próprio Deus deu testemunho dizendo ser ele homem reto, íntegro e temente a Deus e que se apartava  do mal ( Jó 1.8) . Mas foi este mesmo Jó quem disse :  “ Porque ainda que fosse Justo, não lhe responderia, antes ao meu Juiz pediria misericórdia.” ( Jó 9.15). Jó sabia que ninguém é bom diante de Deus, nem o mais piedoso dos homens. Jó entendeu já nos tempos antigos, que apenas a Graça de  Deus pode tornar-nos aceitos diante do Eterno Juiz .Portanto, baseando-se nessa premissa gostaria de compartilhar uma doutrina essencial do cristianismo que é a justificação pela fé em Cristo.

         No fim deste sermão espero que vocês cheguem as mesmas conclusões que Jó :

1-    Se eu me justificar a minha boca me condenará; se for perfeito então ela me declarará perverso ( Jó 9.20)

2-    Receio todas as minhas dores, porque bem sei que não me terás por inocente ( Jó 9.28)

3-    Ainda que eu me lave com água de neve, e purifique as minhas mãos com  sabão, ainda me submergirás no fosso, e as minhas próprias vestes me abominarão. Porque ele não é homem como eu, a quem eu responda, vindo juntamente a juízo ( Jó 9.30-32)

Será que Jó não estava sendo humilde ao dizer tais  palavras ? Prefiro dizer que ele fora realista e sincero, pois pelo Espírito compreendera sua real situação aos olhos do Puro e santíssimo Deus. E nós do mesmo modo devemos entender que somos pecadores e nada pode nos justificar, a não ser o sangue do Justo filho de Deus que morreu na cruz do Calvário.

Fiquemos com o texto áureo desta mensagem que diz  claramente : Os sãos não precisam de médicos, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores ao arrependimento. ( Mc 2.17)

Veremos primeiro o que Jesus quis dizer com a palavra “ Justos”, e depois veremos o que Cristo quis dizer com “doentes”. Tomaremos por base dois textos muito significativos que demonstram perfeitamente que Deus odeia aquele que se justifica.

I-                  O Santo Jesus assentado com os Pecadores

E aconteceu que, estando sentado à mesa da casa de Levi, também estavam sentados a mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores, porque eram muitos, e o tinham seguido. E os escribas e Fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram a seus discípulos : Por que come e bebe ele com publicanos e pecadores ? E Jesus tendo ouvido isto, disse-lhes : Os são não necessitam de médicos, mas os doentes. Não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. ( Mc 2.15-17)

Se a Bíblia diz que não há um justo sequer, como pode Cristo está dizendo que não veio chamar os justos ?- Muito simples, é que Cristo está falando na perspectiva dos Fariseus, que a si mesmos consideravam-se justos diante de Deus e superiores aos  pecadores e publicanos, e até mesmo achavam-se mais puros que o próprio Jesus. Logo, eles não necessitavam  de médico, ou seja, de um Salvador que os justifique diante do Pai.  Cristo veio para salvar aqueles que convencidos pelo Espírito Santo reconhecem sua doença mortal. Iluminados pelo Santo consolador os pecadores correm para o Divino Médico a fim de serem sarados . Todavia, um doente que afirma está em perfeita saúde irá morrer do mesmo modo, ainda que acredite piamente em sua sanidade.

Percebem o que Jesus quis dizer ? Os Fariseus estavam enganados de sua real situação diante de Deus. Por serem homens religiosos, que guardavam a lei de Moisés e todos os preceitos do Antigo Testamento, eles acreditavam  que mereciam receber de Deus dádivas. Cristo veio nos revelar que somos devedores, pecadores  miseráveis , andarilhos do abismo eterno e que somente através  da fé em seu nome receberemos Vida Eterna.

Deus ama os humildes de coração, mas ele odeia o Soberbo. Os escribas e Fariseus eram os homens mais arrogantes da terra. Veja o que Jesus disse sobre eles :

E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu e um publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira : Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto tenho. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo : Ó Deus, tem misericórdia de mim , pecador. Digo-vos que este desceu para sua casa justificado, e não aquele; Porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.( Lc 18.9-14)

         Sempre   que  Cristo  pregava sobre Justificação, ele mencionava dois grupos de pessoas : os pecadores e os fariseus. No Evangelho de Lucas isso está bem evidente. Perceba que o Fariseu representa todo aquele que confia em si mesmo, ainda que professe crê em Deus. Esta classe de gente arroga-se de suas obras e de seus feitos e esperam receber alguma retribuição divina por isso. Ou seja, fazem de Deus um devedor. Porém, Deus é livre de obrigações e não está sujeito a nada, nem a ninguém.

         Vejamos mais cuidadosamente a fala do Fariseu :

1-    “Não sou como os demais homens”.

     Isto nos revela que nunca devemos ter um conceito elevado de nós mesmos. Lembre-se que este  fariseu não agradou a Cristo. Geralmente estamos equivocados sobre nós mesmos. Achamos que somos alguma coisa, quando Deus sabe que não somos nada daquilo. É muito perigoso elogiar-se a si mesmo. A vaidade cega nossos olhos; O orgulho incha nossas mentes e acabamos acreditando em mentiras que nós mesmos criamos ao nosso respeito. Esse tipo de gente nunca está aberto a ouvir conselhos ou repreensões, porque crêem que nunca estão erradas. Pessoas assim são as donas da verdade, por isso nunca poderão se arrepender verdadeiramente e serem curadas pelo Senhor.

2-    “Não sou roubador, injusto e adúltero”

Este Fariseu estava tão equivocado que não percebeu que todos os adjetivos citados são seu perfeito retrato. Aquele que se justifica não necessita de misericórdia. Logo, ele rouba este direito de Deus , de exercer misericórdia. Fazendo isso ele se torna o mais injusto dos homens, pois não recebe a Justiça que Cristo alcançou no calvário. E se permanece longe da Justiça de Cristo, não faz parte da Igreja de Cristo, isto é,  sua Noiva.  Logo, adultera . Pois sem Cristo homem algum pode relacionar-se com Deus, a não ser com ídolos da imaginação.

3-    “Jejuo duas vezes na semana e dou meus dízimos”

Está evidente que este Fariseu se apegou a coisas que ele mesmo fazia. Ninguém que de fato conheceu o evangelho de salvação irá ter esta conduta abominável. Nós ao abrirmos nossa boca diremos : Não tenho nada em minhas mão para te apresentar, Santo Deus, mas em nome de Jesus Cristo , teu Filho, venho a ti, humilhado e crendo em tua misericórdia.

Jejuar, orar e dizimar não nos torna pessoas melhores e mais aceitáveis diante de Deus. Apenas Cristo e sua Justiça fazem isso. Somos agradáveis no Amado apenas. Sem Cristo somos os mais detestáveis seres, ainda que sejamos os mais religiosos de toda a terra.

Não se justifique , pecador. Apenas  diga  ao Salvador quão miserável você  é.  Reconheça que você é apenas mais um digno do fogo eterno e que não habita nenhuma virtude em teu corpo mortal. Diga para Cristo  : Miserável homem que sou! Diga agora mesmo : Sou um verme repugnante e não mereço sua bondade. Confesse a Deus teus inúmeros pecados, mas sem justificar seus erros. Apenas diga : Pequei, contra ti  pequei e fiz o que era mau aos teus olhos. Humilhe sua alma no pó, porque ele mesmo disse que todo aquele que se humilha será exaltado. Mas se tu insistes em se justificar, se ainda achas que é uma pessoa  boa e acima da média, só resta para ti ouvir da boca do Cordeiro : Apartai-vos de mim, não vos conheço. Mais uma vez te digo, amigo, confie na Justiça que Cristo conquistou para nós, pecadores.

Deus odeia aquele que a si mesmo se justifica. Porque todo aquele que se justifica rejeita a Cristo e seu sacrifício de sangue. Poderia haver coisa mais fétida às narinas de Deus ? Esta atitude é o pior dos fermentos que apodrece  a massa. Cuidado com o fermento dos Fariseus!

Como não falar sobre a parábola do pródigo? Mais uma vez Cristo nos fala sobre justificação:

Digo-vos que haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento ( Lc 15.7)

Cristo era questionado por comer com prostitutas e publicanos. Os Fariseus  achavam-se muito puros e limpos para se misturarem com tais pessoas. Quando viam Jesus sentando-se com tais pessoas, ficavam escandalizados. O mais triste em tudo isso é que o senso de  auto justificação fez com que estes homens morressem em seus pecados. Enquanto aqueles pecadores, que sabiam quão pecadores eram, receberam o  perdão de Cristo.

Teremos muitas surpresas no céu. Como disse um grande escritor : Primeiro estarei surpreso quando me vir ali, depois por não ver quem achava que estaria ali, e terceiro por ver quem tinha certeza que não estaria ali.

Precisamos confiar apenas em Jesus Cristo e em sua Justiça que nos é ortogada. Vejamos a parábola do pródigo :

1-    O filho mais moço simboliza os pecadores e publicanos

Este filho viveu dissolutamente, gastando tudo o que tinha com prostituição e farras com os amigos. Lembre-se que Jesus estava comendo com os pecadores. Depois, reconheceu seu erro e decidiu voltar para a casa de seu velho Pai ( Deus).  Porém, este filho volta humilhado, reconhecendo que não merece nem mesmo ser chamado de filho. Era este o sentimento dos publicanos, que viviam dissolutamente com grandes farras. Estes cobradores de impostos eram considerados traidores nacionais, porque trabalhavam para Roma. Eram judeus que trabalhavam na coletoria do Império. Por  isso mesmo, eram rejeitados por outros judeus e muitas vezes impedidos de participarem dos cultos no Templo. Está evidente que os Fariseus jamais permitiriam uma coisa dessas.

2-    O Filho mais velho simboliza os Fariseus que achavam-se justos diante do Pai.

Diferente  do pródigo, o mais velho justifica-se diante do Pai . Ele diz que nunca transgrediu um só mandamento, mas que nem por isso recebeu uma festa. Ele não só achava-se justo, mas também achava o Pai injusto em dar uma festa ao filho prostituto. A bíblia diz que o Filho mais velho ficou indignado. Nem se quer considerava seu irmão mais moço como seu irmão. Tanto é que o Pai diz : Este teu irmão estava morto e reviveu. Para mostrar que ambos eram iguais e ambos necessitavam de Graça.

Mais ao  meu ver o ponto principal desta parábola é quando Cristo diz que o Pai correu e lançou-se no pescoço do filho precipitado, beijando-lhe o rosto. Ora, o filho mais moço estava todo sujo, mau  cheiroso, e numa situação horrível, visto que trabalhava com porcos. Mas o Santo Pai lançou-se sobre ele mesmo assim. Cristo estava confrontando os Fariseus, que  achavam-se santos demais para se ajuntarem com os publicanos. Eles teriam coragem de dizer que Deus era impuro por abraçar pecadores ? Claro que não!

Em Cristo Deus nos abraça, por mais sujos que estejamos. Em Cristo recebemos de Graça um anel, uma sandália nova, novas roupas e ainda um banquete de Salvação. É o escândalo da Graça.

Para concluir podemos dizer que a Justiça de Deus é dada gratuitamente aos pecadores que se arrependem e lançam sua fé em Cristo Jesus. Todavia, essa justiça é posta a prova pelos legalistas, que tentam se justificar sozinhos pelas obras que fazem. Que nossa Justiça não seja a nossa, mas a De Cristo, Justo e justificador. Amém.